20 de agosto de 2009

Pais homossexuais: a delicada relação com mulher e filhos

"Encontrei este texto, uma entrevista na realidade, com a Psicologa Vera Moris, falando sobre as dificuldades dos homens que tem filhos advindos de casaemntos hetereossexuais, desde a revelação até a convivência com filhos. Foi publicado originalmente no site TODA FORMA DE AMOR
Pais homossexuais: a delicada relação com mulher e filhos
Quando a cena de pai acontece na vida de homens homossexuais. Quando chega o momento de contar para os filhos. Foi essa realidade que a psicóloga Vera Moris transformou em tema de pesquisa de doutorado. Ao desenvolver a tese "Paternidade Homoafetiva e Revelação para os Filhos" ela não só investigou o assunto, ela foi mais além.
Do encontro de seis pais homossexuais ocorrido em agosto de 2007, surgiram novos encontros como a reunião que acontece a cada mês e onde todos trocam experiências.
Surgiu também o e-group, pela Internet, onde pais de cinco estados conversam entre si. São 14 reunidos mensalmente em São Paulo e 17 nos econtros pela Internet. A união é tanta que encontro vira sarau, jantares, reuniões sociais em espaços públicos, celebração de aniversários.
Ao retratar a realidade deles, Vera Moris deu o ponta pé inicial para a criação dessa rede de encontro entre eles onde histórias de vida contribuem para cada um e onde a delicadeza do assunto assume sua maior verdade: o amor paterno homossexual. Aqui, nesta entrevista, a psicóloga conta a trajetória da pesquisa e desse trabalho.
TODA FORMA DE AMOR - Como esses homens homossexuais acabaram se tornando pais ?
VERA MORIS - A grande maioria desses homens se tornou pai via relacionamento heterossexual anterior ao momento que se perceberam numa identidade homoafetiva. Apenas um deles já havia se assumido e optou pela adoção; outros dois não foram casados, tiveram filhos de relacionamentos com namoradas com quem estavam envolvidos afetivamente. A literatura aponta que a paternidade de homossexuais via relacionamento heterossexual é a mais comum.
É importante deixar claro que para todos os pais que participam do grupo a paternidade não aconteceu sem querer, todos queriam exercê-la e continuam querendo participar ativamente do cuidado com os filhos. A maior parte deles se encontra aos finais de semana com os filhos, alguns sofrem com uma distância acentuada (a ex-mulher mudou para outro estado), outros participam quase que diariamente da rotina dos filhos, que embora morem com as mães mantêm um relacionamento harmonioso. Um desses pais, por exemplo, vai buscar a filha pequena todos os dias na escola, e fica com ela a qualquer momento que a mãe pedir.
TOFAM - Para eles o que é mais doloroso enfrentar?
VM - Para muitos é a decisão de se assumir nessa identidade homoafetiva e a saída de casa deixando os filhos. Para outros é contar para os filhos, sempre muito difícil, complexo.
Depois que se percebem com essa sua natureza de ser um homem que tem relacionamento homoafetivo, que se assumem nessa identidade, passam por uma fase crítica muito complexa. É um momento doloroso, de tomada de decisões, de medo do que precisam fazer. Dura um tempo maior para alguns ou para outros é mais rápido. Nenhum dos pais passa por isso sem conflito. Depende de suas estratégias para preparar as pessoas que devem saber de sua decisão de sair de casa: a mulher, os filhos, parentes amigos próximos. A revelação para terceiros da própria homoafetividade é lenta, sofrida, e envolve cuidado.
TOFAM - Os filhos acabam aceitando e a convivência fica harmoniosa?
VM - Contar para os filhos é quase que a última fase do longo processo de revelação da homoafetividade: primeiro para uma pessoa amiga mais próxima, depois outros amigos, os familiares, os pais e os filhos. Os problemas em sua maioria se referem a eles não terem o apoio das ex-mulheres e dos familiares para poder dar o suporte necessário aos filhos. Para aqueles homens que conseguiram lidar bem com o relacionamento com suas esposas, mães dos filhos e com os familiares mais próximos, os filhos recebem esse apoio em casa e fica mais fácil a aceitação.
Sempre é importante perceber que a relação pais e filhos é um bom termômetro para a aceitação de qualquer tipo de situação, seja ela difícil, dolorosa, ou apenas algo que se quer evitar falar, pelo receio de causar sofrimento nos demais (muito comum na manutenção dos segredos sobre a homoafetividade). Os filhos acabam sofrendo quando os pais não se entendem e vivem conflitos no relacionamento conjugal ou na separação.
TOFAM - Que tipo de ajuda eles precisam?
VM - O momento de falar para os familiares, esposa, filhos é um dos assuntos mais discutidos. Alguns já falaram e ajudam os que ainda não conseguiram. Os assuntos mais polêmicos são sobre esse momento.
O grupo funciona muito como suporte e espaço para abrir os conflitos e as dificuldades que têm no dia-a-dia. Assuntos referentes às suas dificuldades pessoais na relação com os companheiros e sobre a falta de apoio legal também são bastante comuns. O que mais precisam é de fato de um espaço de continência e aceitação de sua homoafetividade, para se perceberem igual a qualquer ser humano, qualquer outro homem e pai. Esses pais são iguais os outros pais e se percebem às vezes até mais corajosos, porque lutam para serem mais autênticos, enfrentando o preconceito e a homofobia.
TOFAM - A mulher e os filhos geralmente aceitam?
VM - Depois que lidam com seus sentimentos de frustração, porque percebem que seus maridos e o pai que têm não é o que eles achavam que fosse, eles podem sim aceitar e viver bem com essa realidade, desde que o relacionamento não esteja muito abalado com os conflitos, que muitas vezes não se referem apenas à homoafetividade do pai/marido.
TOFAM - A sua tese junto ao trabalho em grupo contribuíu em que sentido?
VM - Acredito que deu o primeiro empurrão para que o grupo começasse, o encontro da pesquisa foi o estopim para que o próprio grupo tivesse oportunidade de se conhecer e se manter em contato mensal. Eles se encontram porque gostam de estar com os demais, porque precisam falar de si e de sua experiência, porque ali eles têm seu próprio espaço.
O material todo que eu tenho lido sobre pais com vivência homoafetiva de outros países também me subsidiou de idéias e o próprio grupo acaba nos desafiando. É um trabalho necessário e bastante interessante.
TOFAM - Qual a orientação que é dada a esses pais?
VM - Em geral a atitude compreensiva e de aceitação dos moderadores (somos um casal de terapeutas) já oferece continência e espaço para que eles mesmos discutam como podem sair de seus problemas. O grupo por si só é um espaço de escuta respeitosa e que faz com que eles mesmos reflitam sobre os problemas que estão tendo. Um ajuda o outro, oferece sugestões, troca informações.
Os moderadores eventualmente são procurados para alguma intervenção mais pontual, seja pelo telefone, ou através de encontros individuais. Nesses momentos podemos ter alguma atitude mais direta se necessário. Já fomos buscar esclarecimentos legais quando percebemos que o grupo tinha dúvidas sobre algumas situações vividas.
SERVIÇO: Vera Moris Psicóloga, psicoterapeuta Telefones consultório: 011 55818141, cel: 011 91521188
da Redação do Toda Forma de Amor"

8 comentários:

  1. é...
    eu quase fui pai
    hehehe

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  2. Antes de mais nada... tenho que revelare que só vim para retribuir o post que fez em meu bolg... de verdade... ia dar um olá somente... mais comecei a ler todo o seu blog e Meus Deus (religioso mode on)... que coisa incrível... fora do comum... como é gratificante encontrar um blog tão bom... achei tudo muito digno!!!

    Parabéns... de verdade... meus parabéns!!!

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  3. É sempre mais difícil para os pais , com certeza , mas com a sociedade cada vez mais liberal, talvez o futuro seja menos intransigente com essas orientações..bjs

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  4. Anônimo3:13 PM

    Olá.

    Sou paulistano, tenho 46 anos, quase separado e dois filhos adolescentes, com os quais me dou muito bem. E sou homossexual.

    Há uma série de decisões na minha vida que não tomei por simplesmente temer a hora de contar para os meus filhos (a ex-esposa sabe)e por não saber como fazer isso.

    Atualmente moro no interior de São Paulo, mas muito me interessou esse grupo que você participa (de pais homossexuais). Existe alguma forma de participar à distância?

    Caso possa deixe qualquer informação aqui mesmo, em algum post futuro.

    Obrigado,


    Em caso positivo, se puder postar

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  5. Anônimo3:13 PM

    Olá.

    Sou paulistano, tenho 46 anos, quase separado e dois filhos adolescentes, com os quais me dou muito bem. E sou homossexual.

    Há uma série de decisões na minha vida que não tomei por simplesmente temer a hora de contar para os meus filhos (a ex-esposa sabe)e por não saber como fazer isso.

    Atualmente moro no interior de São Paulo, mas muito me interessou esse grupo que você participa (de pais homossexuais). Existe alguma forma de participar à distância?

    Caso possa deixe qualquer informação aqui mesmo, em algum post futuro.

    Obrigado,


    Em caso positivo, se puder postar

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  6. Anônimo10:39 AM

    Estas histórias são parecidas com a minha.Puxa vida como faço pra contactar esse grupo.

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  7. Anônimo8:12 PM

    Depois d quase 8 anos de casamento o pai minhas filhas saiu de casa para viver com outro homem, neste ano o companheiro dele foi para fora do país e ele vai ficar mais tempo la do que aqui, por minhas filhas não entenderem por que o pai estava preferindo ir ficar mais tempo com esse "amigo". era isso que eles diziam que era para elas, eu tomei decisão de contar a elas o verdadeiro motivo, elas ficaram muito magoadas no começo, mas não por ele ser gay mais sim por todos já saberem menos elas.Infelizmente agora elas tem outra visão do "amigo". Acho que uma pessoa que tem filhos tem que preserva-los a todo custo, pois eles não pediram para nascer!!

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  8. Anônimo12:20 PM

    ESTOU AQUI - Tenho 47 anos, pai de um casal de filhos de 23 e 19 anos, tenho sofrido muito porque amo meus filhos e até o momento não tive coragem de encará-los e poder dizer a minha verdade. Não sou assim por opção, e sim, porque nasci com esse sentimento. Quero poder contactar esse grupo e poder me orientar melhor da atitude que devo tomar sem magoar demais os meus filhos.

    Forte abraço a todos!!!!!

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