31 de dezembro de 2015

Casamento Gay... no caso... o meu !

Você leu certo! A novidade para 2016 é que eu vou me casar!  
E quando digo casar  não é só morar junto e "brincar de casinha"* como o Mr. Jay sempre critica o que muitos casais chamam de casamento...
*morar juntos sem oficializar

O meu vai ser casamento de verdade, papel passado, celebração, festinha... protocolo completo...

Eu fiquei na dúvida se deveria contar isto no blog, pensei que talvez fosse um assunto por demais íntimo para abrir aos milhares (!!!) - tá, dezenas - de amigos que acompanham as minhas peripécias....
Mas eu percebi que meus papos, meus assuntos, meus textos, são muito pessoais e seria difícil continuar a escrever no blog nos próximos meses sem falar deste assunto. 
Quando perguntei a opinião para um amigo, que também lê o que escrevo, ele disse que eu não devia falar nada porque ia ter gente que ia colocar olho gordo... e a gente bem que percebe que muitas vezes a felicidade de uns "incomoda" outros não é? 
Mas eu estou feliz e fica difícil impedir meu "carro alegórico" de desfilar! Então fica assim, quem curtiu vai poder acompanhar alguns episódios desta aventura aqui. Quem não achou legal.... segue em frente! rsrsr

Já vinhamos conversando, Mr. Jay e eu, sobre este assunto há algum tempo e em julho passado, quando completamos dois anos de namoro, eu pedi ele, formalmente, em casamento - depois conto os detalhes deste dia... mas te contando isto você percebe como consegui segurar segredo todo este tempo, não é ?

Eu resolvi fazer o anuncio oficial - para a família - na noite de natal, primeiro porque estariam todos reunidos, o que talvez impedisse reações desagradáveis de alguma pessoa (a.k.a. meu pai), por estar na frente de várias outras... ou seja, alguma estratégia para evitar problemas
O outro motivo foi porque queria fazer algo marcante, já que as 5 mulheres que eu ia convidar para serem madrinhas estariam juntas! As 5 são minha mãe, minha irmã, minha prima, minha filha e minha BFF - do meu lado só vai ter madrinhas... bem gay não acham? E convidar as cinco ao mesmo tempo seria uma "viadagem" maravilhosa.
E eu adoro surpreender as pessoas!

Depois da troca de presentes nos levantamos para rezar um pai nosso, em lembrança do aniversariante Jesus Cristo, num grande círculo de mãos dadas, como fazemos desde que me entendo por gente. Quando terminamos todos se cumprimentaram pelo natal, trocando beijos e abraços, ai eu puxei o Mr. Jay pelo braço, na beira do degrau da sala de jantar da casa da minha mãe, e falei:

- Pessoal, nós temos um anúncio a fazer... como alguns já sabem(1), e os outros vão saber agora, nós vamos nos casar em junho!

A maioria das pessoas ficou surpresa e os outros que já sabiam se surpreenderam com o momento que eu escolhi para fazer o anuncio publico, e vieram nos cumprimentar. Foi ai que eu saquei as cinco caixinhas, amarradas com uma fitinha laranja, cada uma delas com uma corrente com o simbolo do infinito (foto) e então convidei oficialmente as cinco madrinhas. (isto foi surpresa até para o Mr. Jay)

(1) Eu queria, a principio, fazer uma grande surpresa, guardar segredo até o dia, mas como a intenção é que fosse uma noite alegre e não uma noite para "causar", eu achei melhor contar para algumas pessoas um pouco antes, para elas poderem ruminar um pouquinho a ideia, incluindo neste "algumas" meu pai, o que fiz no dia 22 de dezembro, e ele teve uma reação absolutamente neutra... o que me faz perceber que ele esta velhinho...

Foi um momento bem legal, que me causou muita expectativa e um frio na barriga que não sentia há tempos! Agora vem todos os preparativos... mas sem dúvida, 2016 será "o primeiro ano do resto de nossas vidas".

A todos os amigos que acompanham as bobeiras que escrevo, um 2016 cheio de sucesso e muito muito amor! Que é isto que vale a pena mesmo!

Beijos e Abraços
Fábio


28 de dezembro de 2015

o "cara" que mudou muita coisa morreu!

Esta semana morreu Robert Spitzer, psiquiatra norte-americano que mudou a maneira como se fazia o diagnóstico sobre doenças mentais nos anos 70. Ele foi o primeiro a estabelecer, através de dados estatísticos e medições rigorosas o primeiro conjunto de padrões para descrever transtornos mentais, proporcionando um quadro para a avaliação de diagnósticos e investigações de comportamentos,  aceitos inclusive na esfera juridica, estabelecendo uma linguagem comum para o interminável debate ente comportamento normal e anormal. Antes dele os diagnósticos variavam de profissional para profissional, não havia padrão.

E porque ele é tão importante para para mim, para estes blog, para os LGBT? 

Foi a partir de seus estudos, de suas análises criteriosas, que a homossexualidade começou a deixar de ser uma desordem mental em 1973! 
Fique em paz Dr. Robert!  Obrigadão! Obrigado pela ajuda na caminhada pelos direitos humanos!
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24 de dezembro de 2015

dia de não ser você mesmo...

Hoje, noite de natal, é aquele dia em que muitos, muitos, vão ter que fingir que não são... Vão ter que fingir, vão ter que se esconder. Ou porque a família não sabe, ou porque a família "finge que não sabe" , que você se  relaciona afetivamente e sexualmente com outros homens. 

Eu passei por isto muitas vezes... ter que sair a um canto da sala para poder telefonar para AQUELA pessoa especial á meia noite para desejar feliz natal... ou , até pior, estar do lado da pessoa e não poder dar "aquele" beijo que queria dar...
Para mim, que gosta de namorar, isto era especialmente sofrido, pois era uma desvalorização tremenda dos meus sentimentos, e o pior é que, de certa forma, você acaba "comprando" esta versão de que seu amor é menos "digno" ou "bonito". Você de certa forma sente que seu amor pode "ofender" a família. 
E você se retrai... sofre... de certa forma se mutila...
Eu já vivi isto...

Meu beijo de natal especial vai para todos que ainda tem que enfrentar isto, que ainda sofrem nestes momentos!

Feliz Natal a todos!





11 de dezembro de 2015

MÊÊÊÊDO... de palhaço!


Resultado de imagem para dia do palhaçoSim, eu já sei que na nova ortografia MÊDO não tem mais acento circunflexo! Ainda mais em letras maiúsculas.... mas foi um recurso gráfico para enfatizar a confissão! 
- Eu tenho medo de palhaço! E porque eu lembrei disto? Porque ontem foi o dia "universal" do palhaço... até pensei: CARACA! tem palhaços em outras galáxias do universo! Acabou minha vontade de conhecer outros planetas!

Pode parecer ridículo um homem da minha idade, e do meu tamanho, ter medo de palhaço, uma coisa tão singela e tão alegre... Na realidade o meu medo não é uma fobia, não é um medo patológico que me tira o ar e me faz querer fugir... meu medo é mais um desconforto... um estranhamento.
As minhas primeiras lembranças desta sensação são do tempo que eu ainda tinha que andar de mãos dadas com minha mãe. No nosso bairro tinha um rua comercial - a rua vergueiro - onde sempre tínhamos que ir, fosse para comprar um aviamento ou uma roupa, fosse para comprar um brinquedo (na lojinha da Dona Neusa Japonesa) ou ir ao banco.
Mas o meu terror era a grande loja de sapatos do meio do quarteirão, que sempre tinha na porta um ou dois palhaços que ficavam usando cartazes, falando em megafones, andando de lá para cá anunciando promoções, mas não eram palhaços comuns, eram palhaços em pernas de pau! Imagine eu, com 4 ou 5 anos e aqueles personagens mascarados com 3 ou 4  metros de altura! Dava para não ter medo?
Sempre que eu podia eu fazia minha mãe atravessar a rua - com o pretexto de passar em frente a loja de brinquedos que, piedosamente, ficava do outro lado da rua, mas eu nunca disse para ela que era por medo, imagine o quanto eu sofria se era dia de comprar sapato!
Mesmo hoje em dia eu continuo tendo estes estranhamento... que agora inclui mascarados em geral, incluindo os "entrudos" do carnaval e os "anoymous" dos black blocks. Sabe aqueles palhacinhos que ficam vendendo marionetes ou outros brinquedos nos semáforos? eles que se cuidem!

Hoje em dia entendo que meu estranhamento é em relação á pessoa que não mostra o rosto e, portanto, não pode ser identificada, responsabilizada, um pessoa mascarada é uma pessoa que pode transgredir, agredir, destruir. E olha que neste tempo só existiam palhaços bonzinhos, nem existiam estes palhaços maléficos que existem em alguns filmes de terror hoje em dia.
Por sorte esta sensação tem melhorado com o tempo, meu racional consegue explicar e eu tenho ficado menos ansioso com os palhacinhos.

E você? tem medo de que?

É claro que estes palhaços não são nada se comparados conosco,os palhaços do povo brasileiro. 

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7 de dezembro de 2015

Cada quinta feira é uma vitória para ele!

"Eu sou soropositivo.
Foto ilustrativa, encontrada na internet,
não se refere ao texto especificamente.

Pronto. Eu escrevi isso. Eu fui diagnosticado logo após completar 21 anos e tenho vivido com o HIV durante mais de três anos. Nesse tempo eu passei a publicar detalhes explícitos sobre minha vida sexual  no meu blog para todo mundo ler, mas intencionalmente trabalhei para manter o meu segredo. Mesmo publicando sob um pseudônimo eu recusei falar deste assunto. Mas na terça-feira passada, sentado no aeroporto de Atlanta, eu me perguntava por que eu estava dançando em torno deste pequeno fantasma na sala. O HIV quase não justifica um tal alarido, e certamente não no clima de hoje. Do que eu estava com medo?
Enquanto eu esperava para embarcar eu comecei a escrever um adorável post no Facebook sobre meu status de HIV. Naquele dia (1 de dezembro, dia mundial de luta contar a AIDS) muitos de meus amigos já tinham colocado fitas vermelhas em suas fotos de perfis e fotos de capa. Já era tempo. Escrevi dois parágrafos sobre encontrar esperança e lutar contra o estigma. Eu sabia que ia quebrar meus recordes de CURTIR- qualquer um que não curtisse iriai parecer com um imbecil. E bem antes de eu entrar no avião, eu deletei o post antes de publicar.
Talvez o Facebook fosse demasiado insignificante, pensei. Será que eu quero revelar uma coisa tão pessoal onde as pessoas postar memes com gatos estupidos  e vídeos de música? Ou eu simplesmente ainda não estava pronto?
Meu maior motivo para a voltar atrás, eu percebi, eram meus pais. Eu não tenho nenhum de meus pais no Face, mas eu sou amigo de outros membros da família, como a minha irmã e primos, que certamente iriam passar a informação. Eu nunca disse a minha família sobre o meu HIV, e tenho razões para não fazê-lo.
Quase oito anos atrás, durante o verão, antes de meu primeiro ano do ensino médio, meu pai entrou no meu quarto e me perguntou se eu estava "ainda lidando com aquele problema gay." Eu disse que sim, mais ou menos. Depois de algumas horas de gritos e versículos da Bíblia, ele disse: "É cocô. Isso é tudo o que o sexo gay é. Você vai viver em algum apartamento que cheira a fezes e você nem vai perceber isso, porque você vai viver nele " Ele pode ter dito algo depois disso - eu não consigo me lembrar -, mas a próxima coisa que eu ouvi foi: "Você vai se mudar para a capital e morrer de AIDS antes que de fazer 30."
Eu tinha 16. Muitos anos se passaram desde aquela noite, e eu ainda não consigo expressar como aquelas palavras me afetaram ou como elas ainda o fazem. Considerando tudo, eu tive sorte - eu nunca foi chutado para fora da casa, e nunca ninguém pôs a mão em mim. Em comparação com os meus colegas, minha saída do armário foi fácil. Mas eu nunca esqueci aquela imagem que meu pai pintou. Mesmo agora, me enche de vergonha.
Eu não tinha tido relações sexuais com outro homem e não sabia nada sobre isso. Pelo que eu sabia, eu estaria enfrentando uma vida podre e cheia de doenças. Num momento em que eu mais precisava de uma família, meus pais escolheram me levar para falar com nosso pastor uma vez por semana. Sentado em seu escritório vazio, discutimos os meus "desejos pecaminosos" por algumas semanas até que ele desistiu, ou meu pai se cansou de dirigir até lá. Por alguma razão ou outra, paramos de ir. Eu decidi que eu nunca iria dizer aos meus pais nada sobre minha vida pessoal novamente.
Durante a faculdade, a máximo que meus pais sabiam era onde eu morava e quanto dinheiro estava no meu cartão de débito. Eu encontrei uma família de suporte no grupo de apoio aos estudantes LGBTQ na minha faculdade, e eu, eventualmente, tornei presidente deste grupo. No momento em que meu quarto ano veio, eu tinha alguns amigos íntimos, pessoas maravilhosas, e uma perspectiva de "bons ventos" para o resto da minha graduação.
No segundo dia de aula depois das férias de verão, eu fui para a ioga com um amigo no início da manhã. Considerei toda a experiência da yoga um completo desperdício de tempo, mas eu estava lá porque o meu amigo hétero era bonito e musculoso, e preferia fazer ioga sem camisa. Assim que saí, eu recebi um telefonema da clínica. Os resultados do meu último teste DST estavam prontos. "Precisamos que você venha aqui pessoalmente", disse a enfermeira. Eu perguntei por que ela não poderia me dizer os meus resultados pelo telefone como sempre tinha feito. Ela simplesmente repetiu: "Precisamos que você venha aqui pessoalmente".
Eu fui um suicida nas semanas que se seguiram. Eu pesquisei métodos de suicídio, ignorei aulas, e parei de comer. Eu planejava matar-me na quinta-feira seguinte, que tinha sido o meu dia favorito da semana desde que o futebol do time do colégio. Quando quinta-feira veio e se foi, eu planejei para a quinta-feira seguinte. Eu vivi assim, de quinta-feira para quinta-feira, até que eu finalmente liguei para o serviço de aconselhamento de estudantes e marquei uma consulta. Demorou meses para que eu voltasse a me sentir mentalmente saudável. Sempre que meus pais ligavam eu dizia a eles que eu estava bem. Sempre discutiamos quanto dinheiro eu estava gastantdo - minha mãe sempre me lembrava para tentar gastar menos - e então eu desligava o telefone.
Enquanto escrevo isso, me sinto como se eu estivesse arrastando os meus pais para o pelourinho e exigindo seu açoitamento público. Isso não é a minha intenção. Estou simplesmente contando a minha história. Espero que eles entendam isso, e quando lerem isto, espero que eles saibam que eu sou grato pela forma como evoluíram ao longo dos anos. Nós não somos perfeitos - nenhuma família é - mas no ano passado eu trouxe meu namorado para o dia de Ação de Graças. O que marcou um ponto virada  para nós, e tenho orgulho disso.
Em setembro passado foi a marca do terceiro aniversário do meu dia HIV. Desde então, eu encontrei os mais gentis, mais sexys, mais inteligentes homens da minha vida - os meus amantes e amigos. Eu não estaria aqui sem eles. Eu tive o sexo mais selvagem e mais alucinante da minha vida desde soroconvertido - muito longe da imagem feia que eu previ no colégio.
Quando meu avião pousou em Los Angeles eu me lembro de pensar, eu bati o HIV. Eu o fiz pequeno. A minha única lembrança dele é minha pilula roxa diária. Por que arrastá-lo (o HIV) de volta para a luz?
Eu percebi que eu não tinha medo de dizer ao mundo. Eu sabia que ir a público parecia ser o próximo passo lógico: uma maneira de combater o estigma, aumentar a visibilidade HIV, e esperamos, trazer uma mensagem de esperança aos indivíduos em todo o país, talvez até mesmo na minha cidade natal, jovens que estão atualmente em alto risco de infecção - entre o maior risco no país.
Mas, quando investiguei os meus sentimentos, me dei conta de que eu ainda estava preso naquela vergonha. Eu ainda estava vendo meu pai no quarto, com o rosto vermelho e coçando a cabeça. Eu estava com medo do apartamento com cheiro de merda e esses leitos hospitalares estéreis - lugares onde os homofóbicos, da cidade pequena com quem cresci, imaginavam quando ouvem sobre as pessoas homossexuais no noticiário.
Eu preciso dizer isso agora, porque não somos esta imagem feia. Somos uma bela família internacional de irmãos, irmãs e irmãos-irmãs. Estou honrado de fazer parte dessa sigla, ser um homem que faz  sexo com homens, e que usa um sinal de POSITIVO ao lado meu nome em documentos oficiais, arquivados em consultórios médicos em todo o país. Eu sou um cara POSITIVO. Tenho sobrevivido muitas quintas-feiras desde aquele dia na clínica. Cada quinta é uma vitória para mim.
ALEXANDER Cheves tem escrito artigos sobre sexo, namoro e relacionamentos para a revista GQ e The Advocate. Siga seu blog, O Ex-Namorado Selgagem."


Recebei este arquivo na semana passada da  ADVOCATE, uma revista gay norte- americana que eu comprava em papel (nossa que coisa vintage!)  e hoje sigo virtualmente. Traduzi para que todos pudessem aproveitar. Fiquei muito impactado pelo depoimento do jovem, acho que só quem vive determinadas situações é capaz de falar com propriedade sobre o assunto.
Fiquei muito chocado com a reação dos pais, mas tb muito surpreso com a maneira como ele teve apoio e superou a questão! Uma verdadeira aula de humanidade!

Eu nem sei como eu enfrentaria uma situação parecida... e vc? 

1 de dezembro de 2015

Constrangimento, Preconceito, e muito mais..


Outro dia fui fazer uns exames, coisa de rotina, e ai aparece aquela atendente que vem te perguntar: 
Tem diabetes? Já fez alguma cirurgia? Bebe? Fuma? patati? patata? . Eu respondo sempre no módulo "automático" NÃO SIM NÃO NÃO .... mas já saquei que algumas respostas vc tem que dizer SIM e outras NÃO, e elas são meio intercaladas, de forma a forçar vc a prestar atenção...
Eu respondi as perguntas e ela me pediu para aguardar numa cadeira ao lado. Foi então que chegou um rapaz, e outra assistente veio bombardear ele com as mesmas perguntas: 
Patati? Patatá? Faz uso de algum medicamento de uso contínuo?
E o rapaz respondeu: - Retrovirais 
Ela não perguntou mais nada, agradeceu e se retirou. Não me lembro se para mim esta foi a última pergunta também. Um médico (jaleco branco é sempre médico?) que estava sentado numa mesa levantou os olhos e olhou para o rapaz, que pareceu constrangido.

Foi então que notei que estava prestando atenção nas respostas dele, não prestar atenção seria difícil, uma sala aberta, com várias pessoas, zero privacidade... inclusive,  minutos depois, uma moça foi perguntada: "para que está fazendo este exame" e eu ouvi ela, tb constrangida, responder "hemorroidas"...
Eu já percebi que o pessoal da área de saúde, por achar tudo "normal", não se preocupa muito sobre esta questão, em geral há muita falta de privacidade em hospitais e laboratórios. Eu até confio no sigilo destes profissionais, mas e quem está ao seu lado e ouve? 

Acho que toda doença embute uma dose de preconceito e constrangimento, mas não há como negar que, no caso da AIDS, esta questão é muito mais séria. Realmente é uma doença grave, e todo mundo faz uma relação direta com sexo, promiscuidade, homossexualidade. O fato de ser tratável, porém incurável, assusta muito. 
Eu me angustio em saber que muita gente ainda se contamina, que ainda transa sem proteção. Acho incrível que a AIDS, e outras DSTs não sejam uma preocupação para algumas pessoas... Como eu já contei, eu sou da época que a AIDS surgiu, que muita gente morreu...
Nos EUA até existe uma recomendação expressa para que os homossexuais com vida sexual ativa - não monogâmica - façam uso de PREP ( Profilaxia Pré Exposição ) e até a FIOCRUZ está envolvida num estudo com voluntários neste sentido. Muitos defendem que a PREP vai evitar o alastramento maior do Vírus, pois as pessoas não se infectarão tão facilmente e o Virus vai "acabar" pois não vai ter novos hospedeiros... uma visão quase romântica do assunto... ou seria uma visão COMERCIAL do assunto?

Outro dia eu li um interessante artigo, acho que na THE ADVOCATE, que falava que é muito melhor você ter relações com alguém que sabe que é soropositivo, e se cuida, do que com alguém que desconhece seu STATUS, como eles dizem. Mas muita gente ainda se afasta de alguém que é soropositivo, até mesmo para ser amigo. 

Acho que a unica solução é conversar, falar sobre estes assuntos, tentar diminuir o preconceito, brigar para as pesquisas para o tratamento não pararem, tentar esclarecer os jovens, tentar combater nossos preconceitos... fico  bem perdido com tudo isto...