5 de março de 2006

Ainda sobre a Montanha da Costela Quebrada...

Agora que todo mundo já assistiu Brockeback Mountain dá para comentar mais coisas sem estragar a surpresa de ninguém...
Você ainda não assistiu? È melhor correr ! Se o filme ganhar alguns dos vários prêmios a que concorre, as filas nos cinemas vão aumentar com certeza, pois tem aquele povo que só vai assistir a filmes depois que são campeões...

Duas coisas me chamaram a atenção na história do filme, primeiro foi a maneira como Ennis e Jack se encontram, e a outra foi o relacionamento “super-ultra-mega” enrolado em que os dois se envolvem.

Primeiro me incomoda um pouco a idéia, sem dúvida distorcida, que se dois homens passarem algum tempo juntos sozinhos eles vão acabar se apaixonando, ou no mínimo transando, mesmo que não sejam homossexuais. Parece o clássico fetiche em relação a navios, quartéis do exercito e prisões, onde a ausência de mulheres leva os homens á “práticas” homossexuais.
Na estória ambos tem por volta de 20 anos, o que poderia subliminarmente significar pouca experiência, mas pelo menos Ennis já tinha um relacionamento, uma noiva, antes de encontrar o Jack..
Já em relação a Jack o filme mostra que ele já tinha este desejo homossexual mais latente, primeiro pelo clima de flerte que ele estabelece com Ennis desde a hora que chega ao escritório em que serão contratados e usa o espelho com que se barbeia para “tirar as medidas” do Ennis. Depois, ao longo das semanas os olhares e comentários que Jack lança parecem incomodar e constranger Ennis, que não retribui nada...e na cena em que fazem sexo pela primeira vez, a provocação veio toda do Jack, tanto que, para muitos, a reação selvagem de Ennis parece mais de raiva do que de amor. Parece mais ser uma coisa tipo “tá bom bichinha, vou te dar o que está pedindo!”, tanto que o primeiro beijo é verdadeiramente relutante.
Esta idéia, boba e descabida, de que estar perto de outro homem, e de assuntos gays em geral, pode despertar desejos homossexuais, até motivou um bem humorado ensaio de um cronista americano, em que ele dizia ter medo de assistir ao filme e, de repente, sentir um desejo muito grande de se “tornar” homossexual, de tão bonita que a estória era mostrada (desculpem, não lembro o nome do autor, mas o texto circulou em muitos sites, listas e blogs)
O fato de continuarem a transar durante o inverno, fato que é mostrado de maneira absolutamente pueril, com os protagonistas correndo pelados pelas pradarias, ressalta um pouco esta coisa da descoberta do amor, mas é estranho que eles não falem do que vai acontecer quando saírem dali, parece claro que para os dois aquilo é um “momento” que será esquecido ao deixarem a montanha.
Até mesmo o desejo de vomitar de Ennis quando se despedem pela primeira vez, parece muito mais “nojo” do que aconteceu, e que ele estava botando para fora, do que um desespero por se afastar de Jack como muitos interpretam.
Acho que só fica claro que existe algum sentimento, ou no mínimo muito tesão, quando se reencontram 4 anos depois, mais uma vez por iniciativa do Jack, e se beijam e transam doidamente...mas isto também poderia ser interpretado como a retomada de um segredo, de uma cumplicidade, que eles guardam somente para si.
Amor mesmo eu só vejo quando, novamente o Jack, toma a iniciativa de falar em ficarem juntos, reforçando o estereótipo de que é a “mulherzinha” (no caso o que tem uma posição mais passiva sexualmente) que está sempre querendo se casar – como no livro, Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus.
Para mim o Ennis só começa a pensar em amor, e não apenas nos encontros de tempos em tempos que o entusiasmam tanto, muito tempo depois, apesar de não “se permitir” esta possibilidade.
Mas, de todo jeito, eu tenho certeza que o fato de dois homens ficarem juntos sozinhos não é o suficiente para despertar o amor homossexual...Será que foi porque o Ennis cozinhava bem?
(putz, este texto ficou tão grande que vou deixar o meu segundo “incomodo” com o filme para o post de amanhã!)

E você, na sua opinião o que despertou o amor entre os dois?

2 comentários:

  1. Anônimo7:52 PM

    Adoraria conversar com voce. Acho que tenho um marido ( quase ex-marido) que ainda nao saiu do armario, mas tem uma homossexualidade latente que sempre atrapalhou a nossa relação , no sentido de que sempre houve qualquer desculpa para que nosso relacionamento se aprofundasse em função de ele estar vivendo comigo uma relação que nao deveria ser comigo e sim com um homem. Sou o terceiro casamento dele, e todos tres repetem o mesmo padrao do não vinculo profundo. Me deixe ai uma resposta por favor, por que nao me sinto ainda a vontade de deixar aqui minha identidade. Tks

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  2. Anônimo8:31 PM

    Ah voce nem viu meu comment eu acho. Tb escrevi uma coisa errada: onde esta escrito para que nosso relacionamento se aprofundasse, leia-se não se aprofundasse. Penso que se ele fosse uma pessoa assumida na sua sexualidade, poderia aprofundar uma relaçao comigo nem que fosse de amizade, enfim... aguardo seu comentario sobre o meu.

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