31 de maio de 2005

acrescentei um novo link na lista de RECOMENDAMOS...

10 dicas para falar com suas crianças sobre assuntos difíceis

encontrei este texto num site americano www.proudparenthood.com e fiz uma versão em portugues, é bem interessante...

10 dicas para falar com suas crianças sobre assuntos difíceis
1. Comece cedo.
2. Inicie você as conversas.
3. Mesmo sobre sexo e sexualidade.
4. Crie um ambiente propício, de abertura.
5. Exprima seus próprios valores
6. Ouça sua criança, preste atenção.
7. Tente ser honesto.
8. Seja paciente.
9. Use os acontecimentos do dia a dia para iniciar as conversas.
10. Fale sobre o assunto de novo, e de novo, e de novo

Falando sobre sexo e relacionamentos
A maioria dos pais querem fazer o melhor ao falar com suas crianças sobre sexo e sexualidade, mas normalmente eles não sabem por onde começar. Aqui estão nossos conselhos:
Explore suas próprias attitudes
Os estudos mostram que as crianças que sentem que podem conversar com seus pais sobre sexo – justamente porque seus pais e mães falam abertamente e os escutam cuidadosamente – estão mais suscetíveis a envolverem-se em práticas sexuais de risco do que as crianças e jovens que sentem que não podem falar com seus pais sobre sexo.
Então, é importante que você explore seus sentimentos sobre sexo. Se você se sente muito desconfortável com o assunto, leia alguns livros e discuta seus sentimentos com amigos de confiança (da FALT por exemplo), parentes, médicos ou religiosos. Quanto mais você estudar o assunto mais confiança você sentirá para falar sobre isto
Mesmo se você não conseguir superar seu desconforto, não tenha receio em admitir isto para suas crianças. Não há problema em dizer algo como: “Você sabe, eu me sinto desconfortável falando sobre sexo porque meus pais nunca falaram sobre isto comigo. Mas eu sinto que é importante que possamos falar sobre tudo, inclusive sexo, por favor venha até mim se você tiver alguma pergunta. E se eu não souber a resposta, eu vou procura-la (n.t. - eu trocaria por nós vamos procurá-la)

Comece cedo
Orientar seus filhos sobre sexo necessita um cuidadoso e continuo fluxo de informações, que deve começar tão cedo quanto possível – na realidade, quando ensinamos a criancinha onde é seu nariz e seus dedos do pés, inclua “este é o seu penis”, “esta é a sua vagina” em sua brincadeira.
A medida que sua criança cresce, você pode continuar sua educação acrescentando mais informações gradualmente, até que ele entenda do assunto.
Tome a iniciativa
Se sua criança ainda não tiver começado a fazer perguntas sobre sexo, busce uma boa oportunidade para trazer o assunto á baila. Se, por exemplo, a mãe do melhor amigo de seu filho de 8 anos estiver grávida, você pode dizer: “ Você percebeu que a barriga da mãe de seu amiguinho está crescendo? Isto está acontecendo porque ela vai ter um bebe e está carregando o bebê dentro dela? Você sabe como o bebê entrou lá dentro? – e deixe a conversa correr daí para frente.

Fale um pouco mais do que apenas sobre os passarinhos e as abelhinhas
Ao mesmo tempo que seu filho precisa entender os fatos biológicos sobre sexo, ele também deve entender que o relacionamento sexual envolve cuidado, consentimento e responsabilidade.
Ao discutir os aspectos emocionais do relacionamento sexual com sua criança, ela estará melhor informada para tomar decisões mais tarde, inclusive para resistir ás pressões. Se sua criança já é um pré adolescente, você deve incluir mensagens sobre as responsabilidades e as conseqüências sobre a atividade sexual.
Conversas com crianças de 11 ou 12 anos devem incluir assuntos como gravidez indesejada, e maneiras deles se protegerem disto.
Um aspecto que os pais esquecem de mencionar quando falam sobre sexo com seus filhos é sobre os namoros. Ao contrário dos filmes. quando duas pessoas se encontram e vão rapidamente para a cama, na vida real há tempo das pessoas se conhecerem melhor – tempo de segurar na mão, sair juntos, assistir a um filme, ou simplesmente conversar. As crianças precisam saber que isto é uma parte importante de um relacionamento amoroso.


Dê informações precisas, de acordo com cada faixa etária.
Fale sobre sexo de uma maneira que se encaixe na idade e estagio de amadurecimento de seu filho. Se sua criança de oito anos pergunta porque meninos e meninas mudam fisicamente enquanto crescem, você pode dizer algo como: “O corpo tem substâncias químicas chamadas hormônios que dizem ao corpo quando é hora de se tornar menino ou menina. Um menino tem penis e testículos, e conforme ele vai crescendo sua voz vai engrossando e vai aparecendo mais cabelo em seu corpo. Uma garota tem vulva e vagina e conforme vai crescendo vão crescendo os seios e o bumbum”
Antecipe o próximo estágio de desenvolvimento
As crianças podem ficar assustadas e confusos com as mudanças repentinas de seus corpos e a puberdade pode ser uma fase difícil. Para ajuda-los a ficar menos ansiosos, fale com suas crianças não apenas sobre o que está acontecendo, mas o que vai acontecer também. Uma menina de 8 anos é crescida o suficiente para aprender sobre menstruação, da mesma forma que um menino está pronto para saber como seu corpo vai mudar.

Fale sobre seus valores
É sua responsabilidade deixar sua criança saber sobre seus valores sobre o sexo. Mesmo que eles não adotem estes valores, ao menos eles terão um parâmetro quando tiverem que definir como se sentem ou como se comportarão.

Fale com seu filho, mesmo que ele seja do sexo oposto.
Alguns pais sentem-se desconfortáveis em falar sobre sexo na juventude com uma criança de sexo oposto ao seu. Mesmo que isto seja compreensível, não deixe que isto seja uma desculpa para se fechar ás conversas. Se você é mãe solteira de um menino, por exemplo, você pode usar livros que lhe ajudem,ou perguntar a um medico por algum conselho sobre a melhor maneira de abordar o assunto com seu filho.
Você pode também recrutar um tio, ou um amigo próximo, para discutir o assunto com seu filho, desde que sinta que há uma comunicação fluida entre eles. Quando há um pai e uma mãe em casa, pode parecer menos estranho ter a “conversa de homens” com o pai e a “conversa de mulheres” com a mãe. Este não é um assunto fácil e rápido. Se você se sente confortável falando tanto com seu filho quanto com sua filha, vá em frente! Apenas tenha certeza que as diferenças de gênero não sejam formadores de tabus sexuais.

Relaxe
Não fique preocupado em saber todas as respostas ás pergutnas de seus filhos, oque você sabe é bem menos importante do que a maneira que você responde. Se voc~e conseguir transmitir a mensagem de que nenhum assunto, incluindo sexo, é proibido em sua casa, você estará fazendo a coisa certa.

Perguntas e respostas
O que é sexo seguro?
Se duas pessoas tem um relacionamento sexual, e uma delas tem AIDS ou alguma outra sexualmente transmissivel, ele pode transmitir isto par seu parceiro. Os médicos acreditam que se o homem usar um preservativo de borracha enquanto ele estiver praticando o ato sexual, isto ajuda a protege-lo e a pessoa com quem ele está se relacionando, da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.
É por isto que as pessoas chamam de SEXO SEGURO quando ele é praticado com a utilização de uma camisinha.

É verdade que você não fica grávida na primeira vez que faz sexo
Não. Você pode ficar gravida toda vez que tiver um relacionamento sexual. Usar um preservativo, tomar pílulas que evitam a gravidez ou usar outros métodos anticoncepcionais são maneiras efetivas de prevenir a gravidez. Na realidade, a única maneira de não ficar grávida é não fazer sexo de nenhuma forma.
Você pode inclusive utilizar esta questão como uma oportunidade para afirmar que não ter nenhum relacionamento sexual é uma boa idéia para os adolescentes. Ajude-os a entender que há outras maneiras de mostrar afeição e carinho

Aceitar é uma opção

 Texto que recebi, como sendo do assessor de imprensa da Associação da PARADA do orgulhos, visite o site deles www.paradasp.org.br
 
Campanha: Aceitar é uma opção. Respeitar é um dever.

Uma grande campanha aponta para novas necessidades da comunidade homossexual

Todos os dias nós assistimos a notícias de violência e crimes cometidos contra homossexuais. São pitboys que agridem homossexuais em boates ou na saída delas; adolescentes que os excluem dos círculos de amigos(bullying); programas humorísticos que elegem gays para piadas de componente homofóbico e inúmeros canais de propagação de discursos moralistas que, no fundo, incitam aos crimes de ódio e à violência.

Em livro recentemente lançado pela Unesco, Juventudes e Sexualidade (março/2004) traz um relatório com pesquisas realizadas com estudantes, pais e professores da rede pública de ensino, em 14 capitais brasileiras. De todos os aspectos tratados, o preconceito existente contra o homossexual foi o ponto que mais chamou a atenção dos pesquisadores.
A pesquisa afirma que um em cada quatro estudantes declarou preferir não ter um colega homossexual em sua classe. A mesma pergunta feita aos pais revelou índices ainda maiores(chegando a 60% em Fortaleza e Recife), apontando que o preconceito é gerado no seio familiar, mostrando que tal opinião e violência praticada entre alunos são, antes, esperada pelos pais. Outro ponto de destaque na obra está na resposta dada pelos alunos sobre as formas mais graves de violência. Sendo solicitado que se apontassem as mais graves, bater em homossexuais ficou em último lugar nas respostas dos meninos que consideraram andar armado, usar ou vender drogas, atitudes mais agressivas.
Em livro lançado no dia 24 de março deste ano, também com o patrocínio da Unesco, Perfil dos Professores Brasileiros, outra notícia chamou a atenção: 60% dos professores brasileiros são homofóbicos.

Esses dados, que confirmam diversos outros relatórios sobre os crimes de ódio praticados no país, inclusive o realizado pelo Grupo Gay da Bahia, colocam o Brasil como uma das nações mais violentas do mundo para os homossexuais.
Na obra, o relatório da Unesco faz uma série recomendações acerca do tema homossexualidade, dentre elas:
v a necessidade de se criar projetos que discutam a questão da diversidade e identidade sexual;
v Capacitação de professores com a colaboração de especialistas, possibilitando e problematizando suas vivências sobre sexualidade;
v Investimento em espaço para escuta e debate com os pais, e principalmente com as mães sobre temas relacionados à sexualidade dos jovens.

A campanha produzida pela associação

Essa campanha tem por fim abordar o tema da convivência com a diversidade. Uma das pautas mais importantes que será discutida no Brasil neste ano é a igualdade de direitos civis entre heteros e homossexuais. O projeto que atende a esse fim é a Parceria Civil, conhecida, erroneamente, como Casamento Gay. A Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, organizadora do maior evento de caráter social na América latina, que no ano passado levou mais de um milhão de pessoas às ruas de São Paulo acredita que o país precisa votar o projeto de parceria civil.Ele atina diretamente sobre as uniões e regras para patrimônios, mas indiretamente sobre as políticas para a comunidade homossexual que incluem o respeito social por parte da população e a elevação da auto-estima da comunidade GLBT, para que possa exigir direitos de norte a sul do país.

Ações da campanha

Numa proposta dirigida aos alunos, foi elaborado um plano da Associação GLBT para integrar o projeto Mix Jovem que conta hoje com a apresentação de Vídeos da Associação Mix Brasil e passará a ter a participação de Educadores e Militantes da APOGLBTSP propondo discussões com os alunos sobre o convívio com a diversidade no ambiente escolar.

Para estas atividades serão convidados Secretários de Educação e ONGs GLBTs de todo o país, a fim de que possam reproduzir o mesmo projeto em suas cidades e municípios envolvendo professores, pais e alunos.

· Os grupos, associações e jornais, sites, revistas que tiverem interesse em se unir à campanha em parceria em suas cidades, podem entrar em contato com a Associação Paulista imprensa@paradasp.org.br.

· Empresas, grupos, escolas e universidades que tiverem interesse em organizar debates sobre o assunto poderão entrar em contato com a Associação para participação de cada projeto.

A escolha das peças
Para falar de respeito à diversidade elegemos o conceito de aproximação e distanciamento. Todo mundo passa ou pode passar em algum momento para o lado de uma minoria ou de um grupo que sofre algum tipo de preconceito: negros, orientais, gordos, pobres, mulheres, judeus, loiras, idosos, deficientes, feios etc. Preconceito é algo inerente ao ser humano e, em muitos casos, está vinculado à ignorância/indiferença e a valores sem qualquer base concreta. Esclarecer profundamente a quem tem preconceitos é uma grande tarefa, que só gera resultados se há vontade de quem pratica em rever seus conceitos. Aproximar qualquer pessoa de uma situação em que ela sofreu discriminação é um bom caminho para construir o respeito à diversidade é a temática das peças.

As fotos são do jornalista e fotógrafo carioca, Pedro Stephan e tanto modelos quanto o fotógrafo cederam o material para uso na campanha.

O tema: "Aceitar é uma opção. Respeitar é um dever.", diz: Homossexuais gostariam de ser aceitos, mas principalmente, respeitados. Na pior das hipóteses, cada pessoa tem seu tempo de rever seus preconceitos internos, pois isso é uma decisão pessoal, uma escolha, opção. Mas ninguém deve prejudicar, escandalizar, humilhar ou restringir o acesso e direitos de um homossexual por sua condição sexual. Respeite para ser respeitado!

Pelos Direitos Civis!

Pedro Z Almeida

Associação do Orgulho GLBT de São Paulo
imprensa@paradasp.org.br

 


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30 de maio de 2005

Homem, Homossexual e Pai

Papai é Gay!!!
Joao Bosco Filho weyjy@bol.com.br
Definido como "animal racional, mamífero e bípede, que ocupa o primeiro lugar na escala zoológica; pessoa do sexo masculino, que atingiu a virilidade" (Tersoriol s.d.): o homem. Discorrendo sobre o assunto, Badinter (1993) afirma que o homem vive uma das suas maiores crises de identidade, pois a sociedade patriarcal e conservadora o colocou como único e modelo a ser seguido pelos demais membros sociais, impondo-lhe uma forma de vida que foge as suas próprias condições humanas de existência. Frases como "homem não chora", "é agressivo por natureza", "é um traidor nato", entre outras, são questionadas e levam um grande contingente masculino a buscar explicações para tantas mudanças no seu espaço social.Entendendo que o homem é um ser construído histórico e socialmente, é importante ressaltarmos que a atual crise masculina é fruto das várias transformações históricas, merecendo destaque as várias lutas e conquistas femininas que vem redefinindo o papel social da mulher e ao mesmo tempo exigindo que o homem faça o mesmo, bem como, o profundo processo de mudanças ocorridas com o advento da modernidade, que ao afirmar a intrínseca relação da sociedade atual com a ciência, a tecnologia, o materialismo, a competição e a globalização, ou seja, com o progresso científico, impõe "uma ênfase no presente e no futuro com um crescente descaso pelo passado, pela tradição, pela religião... resultando em perda dos modelos e paradigmas tradicionais, sem haver segurança nos dias futuros." (Boechat, 1997)Observando historicamente a sexualidade humana, com ênfase no processo de formação masculina percebemos que a masculinidade é concebida a partir da capacidade produtiva, pela qual o homem responde como provedor material e financeiro do grupo no qual está inserido. Portanto a simples posse do cromossomo Y ou dos órgãos sexuais masculino não são suficientes para determinar o 'verdadeiro homem', para isto ele deve obedecer as normas ditadas pelo "manual do macho", no qual ser homem implica a superação de todos os ritos de passagem, que geralmente compreendem a demonstração de poder através da força física, da proteção de seus dependentes, da inteligência, do trabalho forçado entre outros.Poderíamos afirmar tranqüilamente que na nossa sociedade atual, com sua enorme complexidade, continua mantendo como pilares estes quatro núcleos arquetípicos básicos: o guerreiro, o xamã, o que vai em busca do sexo oposto visando o Coniunctio, e finalmente, o chefe ou rei que integra as partes num todo harmônico. (Boechat, 1997)Entre as várias formas de demonstração de poder aos quais o 'pré-homem' é submetido, destaca-se a conquista do status social, via de regra conquistado pela profissão que desempenha e pela condição financeira que alcança; outro fator e a constituição de uma família, que apesar de não mais ser caracterizada como tradicional, pai e mãe unidos pelos laços do matrimônio até que a morte os separe, ainda se forma pela presença de um pai provedor financeiramente. Não esqueçamos que neste modelo de família atua uma mãe que, além de dona de casa, assume tarefas no espaço público e é a maior responsável pela reprodução, momento no qual o homem exibe para os seus companheiros a sua maior façanha viril, a perpetuação da espécie.Ainda como importante elemento de consolidação masculina, está a sua posição heterossexual, onde o padrão de normalidade estabelece que "a identidade masculina está associada ao fato de possuir, tomar, penetrar, dominar e se afirmar, se necessário pela força" (Badinter, 1993). A homossexualidade, compreendida enquanto dominação do homem pelo próprio homem, se constitui em um modelo anormal de comportamento. Neste cenário, ser homem também passa pela necessidade de mostrar que não se é homossexual.A crescente conquista do espaço social pelas mulheres acentua ainda mais a crise masculina, uma vez que, ao ocupar esferas sociais, antes exclusivamente masculinas, expõe uma ruptura no modelo hegemônico do poder do macho, levando-o a uma busca incessante pela redefinição do seu papel viril.Nesse contexto de conflito masculino e conquistas femininas, várias instituições sociais são transformadas, entre estas a família, que ao perder o seu caráter tradicional, assume um modelo denominado de moderno, no qual "a família hierárquica com papéis bem definidos quanto a gênero e geração" é substituída por "uma família igualitária, onde os papéis e atribuições de gênero e geração estariam com seus contornos cada vez mais diluídos" (Vaitsman, 1994). É nesse mesmo momento que se percebe o aumento do número de pais separados, mães solteiras, bem como a presença de casais homossexuais, que ao desenvolverem suas atividades profissionais, assumem a responsabilidade de criar filhos fora do padrão tradicional da família mononuclear.A família gay é uma modalidade que ora ganha maior visibilidade. O espaço aberto pelas novas formas de constituição familiar, as várias formas de produção independente, bem como a possibilidade de adoção por parte de pessoas solteiras expõe arestas para que homens e mulheres homossexuais assumam a maternidade e a paternidade de acordo com os seus ideais. Essa forma de união torna-se mais polêmica quando o modelo tradicional familiar questiona quais os princípios morais que serão utilizados para educar a criança membro dessa relação. Como ela irá compreender sua família constituída por dois homens ou duas mulheres, quando a grande maioria encontra-se representada por um homem e uma mulher? As respostas a esses questionamentos e vários outros existentes começam a ser expressas a partir das experiências bem sucedidas, onde casais gays educam suas crianças e lhes proporcionam um ambiente tão saudável quanto ou melhor do que os oferecidos por vários casais heterossexuais. Quanto aos aspectos teóricos que embasam esta problemática, observam-se discussões, como por exemplo a do psicanalista Acyr Maia, autor do livro Psicologia e Homossexualidade, que afirma que nada impede que casais homossexuais eduquem com sucesso uma criança, pois "de acordo com a psicanálise, a função materna e paterna são exercidas pela linguagem. (...) Mas qualquer pessoa, independente do sexo biológico pode suprir essa carência" (Maia apud Mazzaro, 1998). Entretanto, o maior problema a ser enfrentado por essas crianças constitui-se na agressão social, já que ao serem elementos constituintes de um modelo familiar que foge ao padrão de 'normalidade' servirão de alvo para piadas e brincadeiras desagradáveis por parte daqueles que se consideram normais.Existem também as famílias que apresentam um dos seus membros optantes pela homossexualidade, fato registrado em muitos casos devido a forte pressão social imposta ao indivíduo para que ele se inclua no padrão de normalidade masculino ou feminino, onde o homem representa o papel de pai e a mulher contracena com o papel de mãe, ser submisso e responsável pelo cuidado do lar e do 'marido'.A forte coerção feita ao homem para que este jamais fuja as normas ditadas pelo "manual do macho", obriga a um número elevado de homens a construir situações que camuflem a sua verdadeira orientação sexual. As uniões heterossexuais que evoluem para a paternidade, são exemplos clássicos, pois ao cumprir estas duas regras da masculinidade, o homem atinge um patamar no qual seu potencial viril não poderá ser questionado e, se for, o mesmo apresenta provas concretas de sua eficiência masculina, sendo estas, a mulher e o filho fruto dessa relação.Entre todos os povos a preocupação em deixar descendentes é um sinal de virilidade, e em muitas culturas o número de descendentes é visto como sinal de fertilidade e, portanto, de masculinidade. (Boechat, 1997).Ao expor uma maneira de ser e de viver diferente da que realmente deseja, esse homem passa a viver sua sexualidade na clandestinidade, satisfazendo suas fantasias e desejos sexuais carregados por um complexo de culpa e traição, e envoltos em um mundo de mistérios, os quais jamais devem ser revelados ao mundo do macho, pois essa revelação acarretaria na exclusão deste homem do círculo de normalidade, bem como levaria seus descendentes a difícil afirmação "papai é gay".Sabemos que fugir ao padrão de normalidade imposto pela sociedade é uma tarefa árdua e que requer determinação e coragem, uma vez que toda fuga traz como consequência atos punitivos, e nesse caso a punição vem sob a forma de preconceito, da exclusão e da marginalidade de todas as pessoas que assim se comportam. Dessa forma, assumir a homossexualidade nesse universo machista e conservador é percorrer um caminho de pedras e barreiras, transponíveis somente a partir de muitas lutas pela busca da cidadania plena, na qual a orientação sexual não represente motivo de exclusão dos indivíduos dentro do processo da dinâmica social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BADINTER, Elisabeth. XY: sobre a identidade masculina. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.BARKER, Gary, LOEWENSTEIN, Irene. Onde estão os garotos: promovendo maior envolvimento masculino na educação sexual. Rio de Janeiro: CEDUS, 1997.BOECHAT, Walter (org.) O Masculino em questão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.MAZZARO, Marcos. Família Gay. In: SuiGeneris. Rio de Janeiro, a.4. N. 40, dez, 1998.TERSORIOL, Alpheu. Dicionário brasileiro. Erechim, RS: Edelbra, s.d.TREVISAN, João Silvério. Seis balas num buraco só: a crise do masculino. Rio de Janeiro, Record, 1998.VAITSMAN, Jeni. Flexíveis e plurais: identidade, casamento e família e, circunstâncias pós-modernas. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

Familias Homossexuais existem?

A ideia deste espaço é reunir informações e discussões sobre a maternidade e paternidade homossexual, divulgando textos, sobre as famílias alternativas e suas realidades.
Junte-se a esta discussão!